Resta, acima de tudo essa capacidade de ternura.
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz intima pedindo perdão por tudo
-Perdoai-os! porque eles não tem culpa de ter nascido...
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de
quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa a poesia não vivida.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte,
essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta
como uma velha amante
Mas recuará em véus ao me ver junto à bem-amada...
Resta esse constante esforço
para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda.
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha.
Essa terrível coragem
diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.
(Vinícius de Moraes)
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